20 de junho de 2014

Chico por Caetano!


"Chico chega aos setenta (e até agosto sou apenas um ano mais velho do que ele, prazer de dois meses a cada ano). O Brasil é capaz de produzir um Chico Buarque: todas as nossas fantasias de autodesqualificação se anulam.
Seu talento, seu rigor, sua elegância, sua discrição são tesouro nosso. 
Amo-o como amo a cor das águas de Fernando de Noronha, o canto do sotaque gaúcho, os cabelos crespos, a língua portuguesa, as movimentações do mundo em busca de saúde social. 
Amo-o como amo o mundo, o nosso mundo real e único, com a complicada verdade das pessoas. Os arranha-céus de Chicago, os azeites italianos, as formas-cores de Miró, as polifonias pigmeias. 
Suas canções impõem exigências prosódicas que comandam mesmo o valor dos erros criativos. Quem disse que sofremos de incompetência cósmica estava certo: disparava a inevitabilidade da virada. 
O samba nos cinejornais de futebol do Canal 100, Antônio Brasileiro, o Bruxo de Juazeiro, Vinicius, Clarice, Oscar, Rosa, Pelé, Tostão, Cabral, tudo o que representou reviravolta para nossa geração foi captado por Chico e transformado em coloquialismo sem esforço. 
Vimos melhor e com mais calma o quanto já tínhamos Noel, Haroldo Barbosa, Caymmi, Wilson Batista, Ary, Sinhô, Herivelto. 
A Revolução Cubana, as pontes de Paris, o cosmopolitismo de Berlim, o requinte e a brutalidade de diversas zonas do continente africano, as consequências de Mao. 
Chico está em tudo. Tudo está na dicção límpida de Chico. 
Quando o mundo se apaixonar totalmente pelo que ele faz, terá finalmente visto o Brasil. Sem o amor que eu e alguns alardeamos à nossa raiz lusitana, ele faz muito mais por ela (e pelo que a ela se agrega) do que todos nós juntos.”

(Caetano Veloso - Junho 2014)

70 anos de Chico!


"Te perdôo
Por fazeres mil perguntas 
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz.
Te perdôo
Por pedires perdão 
Por me amares demais.

Te perdôo
Por ligares pra todos os lugares 
De onde eu vim.
Te perdôo 
Por ergueres a mão
Por bateres em mim.

Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti.
Te perdôo
Por quereres me ver 
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir).

Te perdôo 
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí.
Te perdôo.
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir.
Te perdôo 
Por te trair."

(Mil Perdões - Chico Buarque de Hollanda)